As contaminações por micotoxinas em rações e alimentos são uma ameaça amplamente conhecida. Elas não só podem ter repercussões diretas na saúde animal e humana, como também podem interagir com outras substâncias xenobióticas, como medicamentos. Em 2022, Lootens et al. fizeram uma revisão para entender melhor esse mecanismo. As micotoxinas – como todo xenobiótico – passam por absorção, distribuição, metabolismo e excreção (ADME).
Seu metabolismo é garantido principalmente por enzimas hepáticas do complexo CYP450, o que também pode ocorrer com aproximadamente 80% dos medicamentos. Diferentes tipos de medicamentos e micotoxinas podem ser indutores e inibidores de CYP450. Os indutores levam à formação de mais metabólitos, o que é satisfatório no caso de desintoxicação, mas não em caso de bioativação (por exemplo, conversão de AFB1 em AFBO, exercendo carcinogenicidade). Inibidores levam a uma menor formação de metabólitos.
É mais provável que os medicamentos afetem a farmacocinética das micotoxinas do que as micotoxinas afetem a disposição dos medicamentos, considerando suas respectivas concentrações de exposição. Outro tipo de interação ocorre quando há uma semelhança estrutural entre a micotoxina e o medicamento. Por exemplo, na presença de uma micotoxinas com uma estrutura azólica, um medicamento antifúngico azólico pode interagir com a micotoxina em vez de interagir com os fungos visados. Por último, a ruptura da barreira intestinal causada por micotoxinas citotóxicas, como a toxina T-2, também afeta a farmacodinâmica de determinados medicamentos.
Para avaliar o impacto das contaminações por micotoxinas nos medicamentos, Lootens et al. relatam que o uso de modelo farmacocinético de base fisiológica (PBPK) pode ser uma ferramenta in vitro eficiente.
Referência: Lootens, O.; Vermeulen, A.; Croubels, S.; De Saeger, S.; Van Bocxlaer, J.; De Boevre, M. Possible Mechanisms of the Interplay between Drugs and Mycotoxins—Is There a Possible Impact? Toxins 2022, 14, 873. https://doi.org/10.3390/toxins14120873